DAS TREVAS PARA A LUZ

de Sr.Paola Lanzilotti icms

Já tentastes distinguir as inspirações (que vêm de Deus) das sugestões (que nada têm a ver com Deus)?

Eu sim, embora obviamente nem sempre seja fácil. Mas há situações tão claras nos quais tocamos, concretamente, a Graça de Deus; vemo-la, sentimo-la, reconhecemo-la... sempre depois daquele primeiro, e muitas vezes difícil, passo do discernimento.

Atenção, não estou a falar de grandes esquemas do espírito, de grandes escolhas... A experiência é sempre a mesma, ainda que se trate de coisas pequenas e simples, como esta que quero contar hoje.

O campo de inverno das raparigas aproximava-se, faltavam poucos dias, e ainda não sabíamos onde levá-las no clássico “passeio”. Mil obstáculos: o número elevado de quem confirmou a participação; os meios de transporte para as deslocações; o clima: chove ou não chove; e onde irmos? Estávamos a poucos dias do campo de inverno e ainda nada.

Então, uma manhã, diante do Santíssimo Sacramento antes das orações, a palavra “cenáculo” aparece na minha cabeça e é um pensamento que volta mais vezes.

Bom... não é uma má ideia! A comunidade Cenáculo está perto de nós, aqui em Fátima; nunca estivemos lá com as raparigas e os testemunhos de vida são sempre bons.

Proponho... é aceite! Falamos com o responsável da comunidade... e esperam-nos na sexta-feira, dia 22 de dezembro, às três da tarde. Combinado! Vamos!

Fomos recebidos por dois jovens sorridentes que nos levam para dentro da “Tenda”.

Fico logo impressionada com a passagem que está pendurada no centro do palco; está escrito em letras grandes: “Das Trevas para a Luz”. Fazia parte da cenografia do espetáculo da parábola do Filho Pródigo que os rapazes encenaram... esta passagem está aí para falar ao nosso coração.

Quem não tem trevas donde sair? Mas vamos por partes.

O primeiro a dar o seu testemunho foi Giacomo, responsável da comunidade. Ele conta-nos a sua história, a de um filho não amado por um pai demasiado severo. As suas palavras abrem os corações, que me emocionam porque senti que era exatamente o que as nossas raparigas precisavam de ouvir, e ele não conhecia nenhuma delas!

Eis o Espírito Santo!!!! Deus fala, Deus age se deixarmos.

Palavras profundas e verdadeiras!

Um dos erros que nós, adultos, cometemos muitas vezes é continuar a falar com os nossos filhos como se ainda fossem crianças... mas não são. Eles nem são grandes, é verdade, mas estão a tornar-se grandes.

Quando olho para as nossas adolescentes, admito, muitas vezes penso que elas estão a crescer, que estão a tornar-se jovens mulheres. E tentando lidar com aquela grande vontade de protegê-las, acompanhá-las, procuro aceitar que não há melhor maneira de lhes fazer o bem, se não for deixá-las ir, mas sem desaparecer, permanecendo como uma presença discreta, atenta, pronta a intervir se for necessário, pronta a aconselhar. Giacomo falou com elas lembrando-as do valor do seu corpo como templo do Espírito Santo, da pureza, e do cuidado que devem ter com os muitos rapazes que nesta idade se aproximam delas com intenções não tão puras. Chamou também a atenção para os vícios que podem surgir…

Depois ouvimos o Dylan, um garoto chileno com pouco mais de 20 anos.

Conta-nos ele que cresceu com pais que ele não sentia como pais. Na adolescência começou a lutar consigo mesmo, com dúvidas que não conseguia responder e com um desejo profundo de amor. Uma batalha que o leva a cair nas drogas, fugir de casa e esconder-se por algum tempo num prédio abandonado. Até que decide voltar para os pais e esclarecer o que sente. Teve uma grande surpresa porque a sua mãe lhe revelou que ela não é a sua mãe, mas sim a sua avó e seu pai o seu avô. A mãe de Dylan deu-o à luz com 14 anos, uma “menina” caída nas drogas, o pai dele era um pouco mais velho, 15 anos, também na droga. Eles não podiam cuidar dele, então, seus avós o adotaram e o criaram. Nesta dolorosa história, Dylan fala-nos da sua viagem, das trevas para à luz, e de como passou a amar aqueles avós que, apesar de não serem seus pais, foram, diz ele, aqueles que o salvaram.

O caminho que tem feito na Comunidade Cenáculo leva-o hoje a ser uma pessoa nova e isso percebe-se pela luz, pela alegria que sai de toda a sua pessoa.

Depois dançamos, cantamos e rezamos com a comunidade.

Mas esta comunidade não inclui apenas os jovens que caíram na dependência. Há também aqueles que estavam “simplesmente” cansados ​​da vida, não tinham um sentido, um rumo e isso leva à tristeza e ao desânimo.

Olhando para eles é impossível não agradecer e louvar ao Senhor pelas maravilhas que realiza!

Cada um de nós é um presente de Deus, uma estrela que às vezes perde o brilho devido a determinados acontecimentos. O sofrimento, as contradições da vida, escondem a sua luz; assim nos vamos convencendo que não somos nada de especial, que não temos valor. Principalmente na adolescência! É um pensamento recorrente, talvez também das nossas raparigas.

As palavras não são suficientes, muitas vezes, para convencê-las do contrário.

E acontece tal como como lemos nos primeiros passos do Gênesis, quando Adão e Eva, depois de terem pecado, se escondem e se distanciam do Amor.

Estes jovens do Cenáculo, porém, são a prova de que é possível voltar a brilhar, ser feliz, porque a beleza não desapareceu, apenas está escondida. Com Deus é possível tirá-la para fora e tornarmo-nos testemunhas da bondade do Pai.

Na verdade, o que fazem um pai e uma mãe diante de um filho que amam, que como Adão e Eva se esconde? Eles o procuram, sempre, até que possam mais uma vez segurá-lo no coração e dizer-lhe duas coisas: “Gosto de ti” e “A tua vida é preciosa”.